Essa pergunta parece óbvia. Sim, eu sei que Deus cuida dos seus ministros! Sim, a graça nos faz suportar as pressões, e devemos aprender a nos “fortalecer no Senhor”. Mas Deus também cuida das ovelhas, e nem por isso elas deixam de precisar de uma pessoa separada por Ele para cuidar, amar, ensinar e corrigir. Quando Deus criou o homem, a primeira observação que Ele fez foi: “Não é bom que o homem esteja só”. Isso não era apenas sobre o casamento. Precisamos de pessoas, assim como precisamos de Deus. Não devemos buscar nas pessoas o que só Deus pode oferecer, mas também não podemos buscar em Deus o que só outras pessoas podem oferecer! Vale para o casamento, vale para os amigos, para os irmãos em Cristo, e para os pastores: Não é bom que um pastor esteja só!
“Mas o pastor não vive cercado de pessoas”? Na verdade, o chamado pastoral pode se tornar uma das tarefas mais solitárias que um homem pode decidir seguir. Em parte por culpa do povo, mas em parte por culpa do próprio pastor. Do povo, por causa das expectativas irreais que fazem na pessoa do pastor. Só para exemplificar: fiz uma pesquisa sobre quanto tempo as pessoas entendiam que o pastor deveria dedicar, por dia, a visitas, aconselhamentos, estudos, oração, planejamento, administração, reuniões, descanso, família, pregação, etc. A soma deu 40 horas por dia de trabalho! As pessoas esperam um super-humano, infalível, sem emoções, gênio da Bíblia, da liderança e das questões humanas. Não entendem que serão cuidadas por alguém que, sim, é chamado e ungido por Deus, mas é limitado, falho, tem sentimentos, não sabe tudo da Bíblia, está crescendo como líder e pessoa, e ainda tem muito a aprender sobre o cuidado com o povo. O texto abaixo, que preparei para uma homenagem ao Dia do Pastor na Câmara Municipal de nossa cidade, exemplifica de uma forma sarcástica e divertida essas falsas expectativas do povo:
“Após centenas de anos de procura, achou-se o pastor perfeito. É um líder que consegue agradar a todos. Ele consegue pregar 1h dentro de 30min, agradando quem gosta de uma pregação rápida e quem gosta de um ensino profundo. É divertido e muito sério. Ele condena o pecado, mas sem apontar o dedo para confrontar ninguém.
Trabalha diariamente, das 8h às 22h, e faz de tudo, da faxina da igreja à preparação dos sermões. Mantêm a igreja na excelência, mas sem exigir compromisso das pessoas. Não trabalha fora, e não incomoda a igreja com suas necessidades financeiras, mas está sempre bem vestido e de carro novo. Está disponível para suas ovelhas 24h, e é um marido sempre presente. Sua igreja está sempre pronta a dar, ajudar os pobres e fazer missões, mas nunca incomoda o povo pedindo ofertas.
Tem a energia de um jovem de 30 anos, e a experiência de um senhor de 50 anos. Ama trabalhar com os jovens, e dedica-se integralmente a cuidar dos idosos. Sorri o tempo inteiro, apesar de se manter sempre sério, porque é seriamente dedicado a manter seu senso de humor. Visita diariamente 10 pessoas, e passa o resto do tempo livre evangelizando, mas sempre que precisamos dele podemos encontra-lo em seu gabinete.
Seus olhos são azuis ou castanhos, conforme a necessidade. Está sempre em forma, e come tudo o que as pessoas o oferecem. Ele é um homem que vive reservado para a oração, mas sempre está lendo um livro, e é carismático e faz amizades novas todo dia. Confia rapidamente nas pessoas, e entende que elas precisam de um tempo para confiar nele. Preparou-se tanto para assumir esse nível de pastoreio, que quando ficou pronto não tinha mais idade para pastorear”.
Além da expectativa irreal, o povo da igreja muitas vezes funciona como as multidões do mundo. Esquecem rápido dos sacrifícios e doações do líder, mas lembram com força e até crueldade de suas falhas. Se um pastor prospera, questionam se ele é íntegro com o dinheiro do Senhor. Se passa necessidades, questionam se ele é um bom e sábio administrador. Se não fala dos problemas, é orgulhoso. Se abre seu coração, é fraco. Se uma tragédia acontece, muitas vezes a primeira reação não é o abraço amigo, o suporte material ou as orações, mas as perguntas: “será que ele está mesmo no centro da vontade de Deus”?
O próprio pastor também tem sua parcela de culpa no isolamento, pois muitas vezes é tentado a esconder sua humanidade, com medo de perder sua autoridade ou sua suposta “aura” de um “ser espiritualmente superior”. “Mas um pastor pode jogar videogame”? “Pode jogar futebol”? “Pastor, o senhor vai ao cinema”? Os líderes maduros precisam descobrir que a opinião pública é uma das fontes mais instáveis de sustentação de liderança a longo prazo para o pastoreio. Vejam o apóstolo Paulo em Malta: mordido por uma víbora, logo após o naufrágio, as pessoas diziam: – é amaldiçoado! Poucos minutos após, quando viram que ele sacudiu a víbora e estava vivo, diziam: – é um deus! Numa hora, você foi “colocado pelo próprio Deus”, é “inspirado pelo Espírito” e “ousado”. Minutos depois, você pode ser chamado de insensível, frio e presunçoso, e talvez “não seja a melhor pessoa para o cargo”. É nesse mar de opiniões inconstantes que o pastor precisa amadurecer sua firmeza nas instruções divinas. Jesus disse aos discípulos:
“Com que posso comparar essa geração? As pessoas se comportam como crianças mimadas, reclamando dos pais: ‘Queremos pular corda, mas vocês estão sempre cansados. Queremos conversar, mas vocês estão sempre ocupados’. João veio jejuando, e foi chamado de louco. Eu cheguei festejando, e me chamaram de beberrão, amigo da ralé. As pesquisas de opinião não parecem valer muita coisa, não é? Só com a experiência é que se comprova a verdade.” (Mt 11:16-19 – A Mensagem).
Além de esconder a humanidade, os pastores se isolam ao esconder seus defeitos. Não estou dizendo que devem usar o púlpito no domingo para desabafar seus problemas, ou compartilhar com cada membro suas dificuldades pessoais. Mas muitas vezes uma conversa entre pastores parece uma competição velada para mostrar quem teve um maior “resultado ministerial”. No meio desses feitos e maravilhas contados, porém, existe um homem cheio de “…conflitos externos e temores internos” (2Co 7:5). E que precisa de um mentor, de alguém para se aconselhar! Todo pastor precisa de um Timóteo, um Paulo e um Barnabé: Alguém que discipulamos e cuida de nós, alguém que nos mentoreia e corrige, e alguém que é nosso ombro amigo e consolador. Sem esse suporte, podemos mais cedo ou mais tarde desabar nossa vida e ministério. E esse é um dos motivos de encontrarmos pastores sofrendo de depressão em secreto, enfrentando sozinhos as traições ministeriais, pressões financeiras, familiares e o esgotamento físico. Alguns chegam ao extremo de retirar a própria vida.
Diante disso, volto à pergunta: Quem cuida do seu pastor?
“Agora lhes pedimos, irmãos, que tenham consideração para com os que se esforçam no trabalho entre vocês, que os lideram no Senhor e os aconselham. Tenham-nos na mais alta estima (máxima consideração – Revista e Atualizada de Almeida), com amor, por causa do trabalho deles”. 1Ts 5:12-13.
“Obedeçam aos seus líderes e submetam-se à autoridade deles. Eles cuidam de vocês como quem deve prestar contas. Obedeçam-lhes para que o trabalho deles seja uma alegria e não um peso, pois isso não seria proveitoso para vocês”. Hb 13:17
“Os presbíteros que lideram bem a igreja são dignos de dupla honra (honorários), especialmente aqueles cujo trabalho é a pregação e o ensino”. 1Tm 5:17
“O que está sendo instruído na Palavra partilhe todas as coisas boas com aquele que o instrui”. Gl 6:6
Sim, Deus cuida dos pastores, mas a Bíblia mostra amplamente que a igreja com seus membros (leia-se: você!) tem uma responsabilidade dada por Deus para cuidar do seu pastor. Cabe ensinar que esse princípio não é apenas para suprir uma necessidade da família pastoral. Não se honra alguém porque essa pessoa precisa, mas porque ela é digna de ser honrada! Não importa o tamanho da igreja, ou quanto o pastor pareça ou não precisar de ajuda, cada crente tem uma parte da responsabilidade dada por Deus de cuidar bem de seu pastor. Não terceirize essa tarefa aos líderes, à diretoria da igreja, à denominação ou a um grupo específico. Todos têm uma parte nesse ministério. Que “coisas boas” você tem dado àquele o que o ensina?
Como posso cuidar do meu pastor?
Na tentativa de resumir um tema tão extenso e importante, posso dividir de forma prática 4 aspectos bíblicos que TODO MEMBRO DE IGREJA deve considerar com respeito ao cuidado do seu pastor:
Honrando e cooperando com a visão que ele recebe de Deus para a igreja local:
Se o seu pastor é um líder piedoso, ele deve ter o mesmo sentimento do apóstolo João: “não tenho alegria maior do que ouvir que meus filhos estão andando na verdade” (3Jo 1:4). Nada alegra mais o coração de um pastor verdadeiro do que saber que o povo está, como os cristãos de Beréia, recebendo com avidez a Palavra. Celebre os cultos e eventos, as pregações e ensinos, agarre a visão e a cultura da sua igreja. Descubra o que seu pastor valoriza e comece a valorizar também. Mergulhe de cabeça nos projetos. Obedeça com alegria, pois “não seria útil” (Hb13:17) para você estar numa igreja que você não celebra. Se você não ama e honra a visão e seu pastor, busque agora mesmo ao Senhor em oração, e tome uma atitude de ser fervoroso nestas coisas. Se ainda depois de orar você não concordar, não viva no meio do povo como um murmurador ou “do contra”: procure outra igreja! É melhor para o povo, para o pastor, e até mesmo para você…
Orando e encorajando sua vida pessoal e ministério:
Só um pastor sabe o tamanho da pressão espiritual que se enfrenta todo dia para liderar uma igreja saudável neste mundo perverso e de valores corrompidos. Existem pessoas lá fora que adorariam ver o seu pastor cair num escândalo ou desistir de tudo. Tem até gente dentro do rebanho que a Bíblia chama de lobos ferozes, e criam problemas, distrações e resistência espiritual. O próprio diabo e os demônios também fazem uma grande oposição ao ministério do seu pastor. Não faça parte dessa lista! Ore diariamente por seu pastor. Costumamos criticar rapidamente quando algo na igreja “dá errado”, mas qual foi a última vez que você elogiou seu pastor, seja na frente dele ou de outros? Você já agradeceu por alguma mensagem que marcou a sua vida? Já reconheceu publicamente uma atitude que impactou você? Todo ser humano precisa de encorajamento, e seu pastor não é uma exceção… Você tem o seu líder em “máxima consideração”?
Cuidando da saúde física, financeira e emocional da família pastoral:
É impressionante como algumas pessoas se esforçam para ter uma igreja com um prédio pintado, um piso novo e um microfone de qualidade, mas não se incomodam em ter um pastor com roupas velhas, pneus do carro desgastados e uma saúde debilitada. Se você é membro de uma boa igreja, deveria enxergar seu pastor como o maior “patrimônio” da instituição! Sem ele, nem prédios, nem projetos e nem igreja existiriam. Alguns acham que o pastor está “pesado no orçamento da igreja”, mas esquecem que sem o pastor nem orçamento a igreja iria ter! A família do seu pastor tem plano de saúde? Alguém pode dizer: “ele precisa crer em cura divina”… ou “Ele não deve se preparar para adoecer”… Quero lembrar que o nome é plano de saúde, e não plano de doença! Exames de rotina são necessários, além de acompanhamento físico, nutricional, etc. Um pastor saudável será um pastor mais disposto e disponível para ser uma bênção para sua vida. Talvez a igreja não esteja num nível financeiro capaz de suprir tantas demandas lícitas, como transporte de qualidade, plano de previdência, etc., mas será que alguns irmãos não podem se unir e suprir temporariamente essas ou outras carências? Qual foi a última vez que seu pastor fez uma viagem de descanso com a esposa, ou saiu para um dia de lazer com os filhos? E que tal se você (junto ou com um grupo) for a pessoa que vai semear essa oportunidade? Eu sei que nessa hora muitos irmãos vão pensar nos pastores gananciosos e aproveitadores, e infelizmente eles existem sim… mas se esse for o seu caso, por que você ainda está na igreja errada? Porém, se o seu pastor é uma bênção, e você já compartilhou tantos problemas e coisas ruins com ele, que tal começar a compartilhar estas e outras coisas boas também? (Gl 6:6).
“Se entre vocês semeamos coisas espirituais, seria demais colhermos de vocês coisas materiais?” (1Co 9:11).
Promovendo crescimento pessoal e espiritual do seu líder:
Se você algum dia já criticou uma pregação do seu pastor, ou uma decisão que ele teve como líder em alguma área, ou uma suposta “falta de sabedoria”, eu tenho algumas perguntas para você: você já o presenteou com algum livro? Você já deu a ele a oportunidade de participar de alguma conferência, nacional ou internacional? Que tal semear uma passagem aérea, uma inscrição, ou uma hospedagem, para um evento que pode mudar a vida e ministério dele? Até mesmo naturalmente falando, não seria sensato investir na qualificação da pessoa que você se senta para ouvir toda semana? Quanto mais seu pastor crescer, melhores ensinamentos e conselhos você vai receber. Sua família será melhor, seus negócios vão prosperar mais, seu espírito estará bem alimentado. Por que resistimos em lançar as sementes para cima, se sabemos que elas vão cair de volta em nossas mãos de uma forma trabalhada e multiplicada?
Tenha orgulho de congregar em um bom prédio, de fazer parte de uma boa igreja, mas se alegre também em ver seu pastor desfrutando do melhor da terra. Lembre-se que é você quem ele estará representando por onde for. Lembre-se também que ele só vai conseguir levar o rebanho (leia-se: você!) aos lugares que ele já foi primeiro. Exponha seu pastor a um ambiente de crescimento, invista nele como se investe numa aplicação altamente rentável. Sonhe os sonhos de seu pastor, e deixe Deus sonhar os seus sonhos.
Quando vejo um crente egoísta, ingrato ou invejoso chamando uma atitude de honra de “bajulação”, costumo lembrar da mulher que derramou um perfume caríssimo aos pés de Jesus. Judas, pensando no próprio umbigo, reclamou que aquele “desperdício” poderia ter sido ministrado aos pobres. Não era nos pobres que estava pensando. Era apenas um discurso “politicamente correto” para esconder a desonra do seu coração. Jesus foi enfático: “os pobres vocês sempre terão consigo, mas a mim vocês nem sempre terão”. Será que seu pastor atual será para sempre seu pastor? Que tal então transformar essa temporada numa jornada agradável para ele, para você e para toda a igreja? Essa sim, é a forma mais proveitosa, prazerosa, e Bíblica de ser ovelha em uma igreja saudável.
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